Com molhagem constante, por aspersão ou química: antes de escolher é preciso analisar o processo construtivo, a velocidade de desforma e a existência de elementos pré-moldados
Redação AECweb / e-Construmarket
A cura do concreto é um procedimento que visa retardar a evaporação da água empregada na preparação da mistura, permitindo assim a completa hidratação do cimento. Executada durante as primeiras etapas de endurecimento, a atividade pode ser realizada de diferentes maneiras, dependendo da situação.
“Pisos e lajes requerem muito cuidado com a cura. Em fundo de vigas e faces de pilares a atenção é menor, pois são peças protegidas pelas fôrmas. Em estruturas de grande volume e pouca área, a cura se torna importante por razões térmicas e não de resistência ou durabilidade”, explica o engenheiro Paulo Helene, professor da Universidade de São Paulo (USP) e conselheiro permanente do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon).
Cura via aspersão em laje de concreto (pryzmat/ Shutterstock.com)
INFLUÊNCIA DO AMBIENTE
Além do tipo de estrutura, o local onde está localizada a obra também tem que ser levado em consideração para escolha do método de cura, analisando a umidade relativa (UR) do ambiente, temperatura e velocidade do vento. “Curiosamente, a época de maiores problemas por falta de cura em São Paulo são os meses frios de julho, agosto e setembro. Isso acontece devido à baixíssima UR e ventos mais fortes e constantes”, fala o professor.
Já na região norte do país, que tem UR anual de cerca de 95%, não é preciso aplicar nenhuma técnica de cura. “Em contraponto, nas áreas secas do centro-oeste e no interior do Nordeste, a ação é sempre obrigatória”, diz o engenheiro.
DETERMINAÇÃO DO MÉTODO IDEAL
A escolha da técnica mais apropriada de cura passa ainda pela análise do processoconstrutivo, verificando a velocidade de desforma e a existência de elementos pré-moldados. O custo e a disponibilidade local de ferramentas também precisam fazer parte da equação, assim como eventuais interferências futuras que o método de cura pode causar nas demais atividades que ocorrem no canteiro.
Com base no conjunto de informações, o profissional responsável é capaz de indicar qual a melhor técnica a ser empregada. Entre as mais comuns estão a cura com molhagem constante; via aspersão, irrigação ou alagamento; química; a vapor; térmica; e com agentes internos.
CURA COM MOLHAGEM CONSTANTE
Uma das técnicas mais empregadas, a cura com molhagem constante é também aquela que gera mais dúvidas. A peça de concreto precisa estar permanentemente em contato com a águae não de maneira intermitente. “Molhagem constante significa sempre saturado a 100% de UR, o que não pode ser confundido com a mangueira de água na mão de um operário que molha uma área enquanto observa as demais secando”, ressalta Helene.
O método é indicado para pisos, lajes e, eventualmente, para faces verticais. O tempo de cura da técnica varia em função da resistência à compressão, ou seja, até que a peça atinja, pelo menos, 15 MPa. “No caso de pisos industriais, onde a resistência à abrasão superficial é fundamental, o concreto tem que curar durante 21 dias. O mesmo período precisa ser respeitado em estruturas expostas a ambientes agressivos”, diz o especialista.
CURA VIA ASPERSÃO, IRRIGAÇÃO OU ALAGAMENTO
A cura via aspersão também é recomendada para execução de pisos ou lajes. Nessa técnica, sistemas de ar-comprimido são responsáveis por manter uma névoa próxima à peça de concreto.
“Os procedimentos de irrigação são pouco recomendáveis e muito perigosos porque o operário não consegue molhar tudo de uma só vez e acaba criando ciclos de molhagem e secagem, que são desfavoráveis ao concreto”, comenta o professor, indicando que o alagamento é o ideal. No entanto, nem sempre é possível utilizar essa técnica devido a restrições no canteiro.
Molhagem constante significa sempre saturado a 100% de UR, o que não pode ser confundido com a mangueira de água na mão de um operário que molha uma área enquanto observa as demais secando
Paulo Helene
CURA QUÍMICA
A cura química é a aplicação de produto, por aspersão, na superfície do concreto. A substância, que tem a função de impedir a evaporação da água, pode ser fabricada a partir de WAX, ceras, parafinas, PVA, acrílicos, estirenos, entre outros elementos. “A eficiência da técnica pode variar entre 40% e 100% dependendo da qualidade do produto”, destaca o engenheiro.
A alternativa é indicada para qualquer situação, já que apresenta como vantagem principal a facilidade de aplicação. “Todavia, traz o inconveniente de dificultar ou prejudicar a aderência de revestimentos, chapiscos, contrapisos, pinturas e argamassas colantes”, adverte o professor. As soluções químicas usadas nessa técnica de cura precisam estar em conformidade com as normas ASTM, pois a ABNT ainda não tem uma norma específica para os materiais.
CURA A VAPOR
A cura a vapor ocorre com aplicação de UR em 100% e temperatura controlada que fique acima da ambiente – até o máximo de 70º C. “A técnica é bastante comum em ambientes frios, como no sul do país, ou quando há muita pressa para realizar a desforma”, fala Helene, lembrando que o método foi muito usado na cura de lajes durante a década de 70. “No entanto, raramente é realizado atualmente”, completa.
O procedimento usa o princípio da maturidade para alcançar altas resistências a baixas idades. Por isso, não é aconselhável quando se deseja resistência elevada à abrasão ou durabilidade da superfície.
No caso de pisos industriais, onde a resistência à abrasão superficial é fundamental, o concreto tem que curar durante 21 dias. O mesmo período precisa ser respeitado em estruturas expostas a ambientes agressivos
Paulo Helene
CURA TÉRMICA
A cura térmica segue o mesmo princípio de maturidade, mas é empregada em peças pré-moldadas. O procedimento demora horas e também não deve ser realizado se o produto final precisar de resistência elevada à abrasão ou alta durabilidade de sua superfície.
CURA COM AGENTES INTERNOS
O uso de agentes internos, como os aditivos, é alternativa que exige cuidados. “Porque a eficiência é relativa, pois as faces expostas a ambientes muito secos e com vento podem ser prejudicadas na abrasão e na durabilidade, apesar de o restante da massa estar bem curada e ter alta resistência e durabilidade”, destaca o docente.
O PAPEL DAS FÔRMAS
As próprias fôrmas usadas para moldar as estruturas de concreto protegem as superfícies contra dessecação prematura e funcionam como procedimento de cura. Em muitos casos em que a desforma ocorre de maneira precoce, é necessário aplicar algum dos métodos de cura até que a estrutura alcance os 15 MPa.
NORMAS TÉCNICAS
O Brasil ainda não tem norma técnica específica para os métodos de cura do concreto. No entanto, os procedimentos são citados e exigidos pela ABNT NBR 14931 – Execução de Estruturas de Concreto – Procedimentos. “Existem também as normas internacionais, como a norte-americana ACI 308”, finaliza Helene.\
Referência: https://www.aecweb.com.br/cont/m/rev/cura-do-concreto-conheca-cada-tecnica-suas-vantagens-e-cuidados_16242_10_0